terça-feira, 11 de maio de 2010

Paixão e... Paixões!

"Nada existe de grandioso sem paixão".
(Hegel)


Raiva e lamentação me acometeram quando descobri, apenas um pouco depois, que havia perdido um evento sobre Música e Neurociências realizada por importantes nomes nacionais no assunto, sob os auspícios do Departamento de Música da USP de Ribeirão Preto - tema sob o qual repousa parte de minhas preocupações e interesses atuais. Mal passou o susto e quase levo outro: de última hora, descobri que a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto está organizando seu II Encontro Bienal de Psicanálise e Cultura. Mesmo para aqueles que, como eu, dedicam certa aversão e críticas às teorias de Freud & cia., deveriam ao menos atentar para o assunto contemplado por este evento: "Paixões", tema infinito de possibilidades e extremamente oportuno de ser abordado sob a perspectiva da Arte, qualquer que seja ela.

Para passar um pouco de vontade, vamos à programação:

"A abertura oficial do II Encontro de Psicanálise e Cultura acontecerá na noite
do dia 13 de Maio no clássico teatro de ópera ribeirão-pretano Pedro II, com a
Apresentação Musical Comentada da mezzo soprano Regina Elena Mesquita, de São
Paulo. Ela iniciará com a apresentação de uma ária de Carmen de Bizet,
apresentando também outras peças apaixonantes, como trechos da ópera Sansão e
Dalila e outros populares como Piaf, sempre versando sobre o tema das paixões.

Nos dias 14, 15 e 16, no Centro de Convenções Ribeirão Preto, serão
realizadas diversas mesas redondas com psicanalistas e profissionais de
diferentes segmentos da cultura, que trarão reflexões percorrendo o vasto
território instigante das paixões, levantando questionamentos sobre suas
diferenças e semelhanças, seus caminhos e descaminhos. Haverá tempo e espaço
para debates entre os palestrantes e com o público presente; e dois cursos serão
oferecidos, versando sobre Paixão nas Artes e na Psicanálise.

Está
programado também: exposição de artes plásticas com artistas consagrados da
região, exposição documental sobre a história da Psicanálise no Brasil e sobre a
história da IPA (que está comemorando 100 anos), apresentação de vídeos com
cenas antológicas do cinema, apresentações de artes cênicas, de dança e
projeções de entrevistas interativas com as idéias originais suscitadas no
público presente nas palestras. Dentro do espaço cênico que será montado para
ilustrar a paixão nacional pelo futebol, um típico “boteco”, haverá uma
apresentação musical da Ópera do Malandro de autoria de Chico Buarque de
Holanda, pelo Coral Minaz. A atriz Beatriz Segall, além da participação em mesa
redonda, apresentará um monólogo intitulado “A Senhora das Cartas”."


A coisa toda parece muito interessante, e na impossibilidade de contemplar todo o evento, gostaria ao menos de comparecer à abertura e fazer o curso sobre Paixão nas Artes. Vamos?

Mais informações aqui.

domingo, 9 de maio de 2010

Dia das Mães

Nada que se possa oferecer a uma Mãe parece suficiente para agradecer com justiça toda a dedicação e amor que recebemos. Ainda que o mundo nos ignore, aquele que tiver o privilégio de receber o afeto e ternura maternos já encerrará uma vida plena de significados, pois os tomou de uma fonte verdadeira, e talvez a única.

Este vídeo é uma interpretação da famosa "Ave Maria", de Charles Gounod, pelo cellista inglês Julian Lloyd Weber. Feliz Dia das Mães!

Pensamentos de um Sábado

Ontem, mais um sábado. Sem ensaios e estudos do Duo, mas com aulas de metodologia. O que fazer, o que não fazer. Regras, críticas, planejamento. A arrogância do pensar, o apego aos Dogmas - precipitadamente tomados como privilégio das religiões - estão presentes também na Filosofia ou Ciência, fabricando-nos apáticos, carentes de inspirações, obsessivos, antipáticos, donos da verdade, ainda que arrotemos com verdadeira convicção de que não há uma única, mas várias, e fazendo dessa proposição mais uma verdade verdadeira para a coleção dos sábios (verdadeiros), única e indispensável. E seguimos inflados, perfumados e arrumados, pois somos doutores, acadêmicos, intelectuais, pensadores, sistemáticos... E tantos outros disfarces de merda que usamos para enganar aos outros e a nós mesmos e tampar com a peneira o sol de uma vida vazia e fútil.
É possível fazer um bom uso das coisas, eis a minha impressão. No almoço, um papo legal... Sem vinho, mas sobre Heidegger(aquele alemão infernal), Música, Arte, Academia e coisas da vida anunciam a concepção de novos planos e o devir de novos sonhos. Não tão novos, é verdade , mas atualizações de coisas perdidas, desistidas.
E eis que, no retorno à classe, ao ler em voz alta e solene um artigo sobre Fernando Pessoa, divago e declamo, em silêncio, para mim e minha solidão:
Como nuvens pelo céu
Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim.

São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?

(Fernando Pessoa, 17-6-1932)

E minha divagação só foi contida quando fiz disto uma prece: "Que a Arte nos aponte uma resposta..."

- Quod script, script.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Doutores da Alegria

Como gotas de orvalho que sobrevivem ao avançar do dia, ouso sonhar e esperar por um Amanhã de novas possibilidades no campo da saúde e das relações humanas: tempos de Humanização, de alegria e arte como remédio para as dores do corpo e da Alma. Obrigado, Doutores da Alegria, por nos mostrar que isto não é um divagação ingênua... E que o próprio caminhar é a realização do caminho!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O que faço pelas noites sem fim?

Após o primeiro dia de um simpósio, penso em certas bases neurais que deveriam ser modificadas. Quem dera os sentimentos cedessem às duras apreciações da Razão! Me tornaria, assim, um digno discípulo de Ovídio, o poeta romano que presunçosamente se julgava mestre na Arte do Amor. Mesmo ele, porém, precavido, prestava suas homenagens à ela, Vênus, a Deusa daquilo que todos temem e desejam. Assim também procedo, mas à maneira de Lucrécio:

"É por ti, ó Vênus, que todas as espécies vivas são concebidas e, uma vez
chegadas à existência, vêem a luz do sol; diante de ti, ó Deusa, à tua
aproximação, fogem os ventos, fogem as nuvens; sob os teus passos a terra
fecunda estende seus doces tapetes de flores, as ondas do mar te sorriem, e, por
ti, no céu apaziguado, espalham-se e resplendem as luzes..."

E, em mais uma noite dedicada à contemplação da moça amada, descubro, entre os livros, alguém que também não dorme:

"Você pergunta o que penso
pela longa noite?
Passo-a ouvindo
a chuva forte
batendo nas janelas."

(Izumi Shibiku)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dois sonetos

À guisa de um prefácio tardio, um prelúdio esquecido... Ou se preferirem, um aviso, justificativa, talvez um pedido de desculpas pelas ladainhas que vieram e pelas que ainda virão: eis o que, fatigado, procurei em meu exemplar dos Sonetos de Bocage, roubado da biblioteca paterna e ainda empoeirado. Não selecionei um único, mas um par: trata-se de minha estratégia literária para enganar a solidão...

"Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-sas com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores.

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores.

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência".

"Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza, e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça tristeza envenenados;

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania.

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco."

(Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Cachorro Velho

Faz frio. Não lá fora, mas aqui dentro. Eu deveria me comportar, e talvez ganhasse um osso por isso. Mas insisto viver as coisas e os sentimentos ingênuos, intensos e precipitados. E ganho migalhas, restos que não me interessam. Paga-se um alto preço por escolher não viver noites artificiais. Não precisei subir ao Monte Carmelo para viver, e agora mesmo, a Noite Escura da Minha Alma. Mas espere. Não dizem os cristãos e talvez outros também, ou todos, que cachorros não têm alma? Não sei, não pode ser, mas se for assim... O que me dói?